Ouvi
dizer que os anjos vivem no céu. Muitas vezes, até tropecei por não
querer olhar para o chão, esperando ver as criaturas sobrevoando o
espaço. Nunca vi nada. Enquanto imaginava a beleza e a pureza dos
anjos, me tornava cada vez mais alheia à minha volta. Onde mais
poderia vê-los senão no céu?
Mas aí
vieram as histórias mais pesadas. Cheguei a ouvir que um anjo podia
medir 3 metros de altura. Isso me assustou. E muito. Comecei a
imaginá-los durante a noite, à espreita na cabeceira da minha cama,
gigantescos e nada fofos. Nem meu pobre anjo da guarda se salvou.
Passei a pensar duas vezes antes de fazer a oração do anjo...
Finalmente
cresci. Ou quase. Passei a ler romances estrelados por anjos, que
mesmo caídos, ainda mantinham a força e a presença divina. Pura
bobagem, obviamente. Não pela viagem ao imaginário, mas pelo tanto
de voltas que precisei dar para entender que os verdadeiros anjos
estavam à minha volta o tempo todo.
Eles eram
aquele senhor pobre, que passava o mês de dezembro inteiro, vestido
com uma camiseta vermelha e um chepuzinho de Papai Noel, distribuindo
bolinhas de plástico coloridas entre as crianças que encontrava
pela rua, com um sorriso lindo e cheio de amor ao próximo; eram
também aquele garotinho, pequenino, que mal começou a falar e já
se sentiu mal por comer carne, quando os animais, nossos amigos,
deveriam ser mais respeitados; poderiam ser até mesmo aquela
celebridade milionária que fazia muitas caridades, cujas intenções
eram julgadas como forma de se manter na mídia; tenho quase certeza
de que, aquele homem de poucas posses que recolhia animais de rua,
dando amor, comida e um lar, contruindo até mesmo suportes com rodas
para os cães deficientes, também era um deles. Anjos. Onde andam
vocês?